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Foto do escritorElisa Gabriela

Caso Richthofen


Caso Richthofen é a denominação pela qual tornaram-se conhecidos o homicídio, a consequente investigação e o julgamento das mortes de Manfred e Marísia von Richthofen, casal assassinado pelos irmãos Daniel e Cristian Cravinhos a mando da filha Suzane von Richthofen.

Suzane e Daniel conheceram-se em agosto de 1999 e começaram um relacionamento pouco tempo depois. Ambos tornaram-se muito próximos, mas o namoro não tinha o apoio das famílias, principalmente dos Richthofen, que proibiram o relacionamento. Suzane, Daniel e Cristian então criaram um plano para simular um latrocínio e assassinar o casal Richthofen, assim os três poderiam dividir a herança de Suzane.

No dia 31 de outubro de 2002, Suzane abriu a porta da mansão da família no Brooklin, em São Paulo, para que os irmãos Cravinhos pudessem acessar a residência. Depois disso eles foram para o segundo andar do imóvel e mataram Manfred e Marísia com marretadas na cabeça.


A FAMÍLIA VON RICHTHOFEN

Manfred von Richthofen e Marísia se conheceram na década de 1970, quando ela cursava medicina e ele fazia engenharia na Universidade de São Paulo (USP). Depois do casamento, foram estudar na Alemanha. Na volta, ele começou a trabalhar para empresas privadas até chegar à Dersa, a estatal que cuida de estradas em São Paulo. Quando voltou da Alemanha, Marísia abriu um consultório de psiquiatria. Suzane nasceu em 3 de novembro de 1983. Quatro anos depois, veio o caçula Andreas.

Nas vizinhanças da casa onde a família morou por quase quinze anos, na Zona Sul de São Paulo, os quatro são lembrados com simpatia. "Era a família Doriana, a família feliz", diz a psicóloga Luciane Mazzolenis, vizinha do casal, a quem Suzane chamava de tia. Os von Richthofen se mudaram do sobrado - avaliado em R$ 400 mil - em 2000. Mas Manfred e os filhos iam com frequência à casa para pegar correspondências e varrer as folhas do quintal. Os conflitos familiares começaram quando Suzane iniciou seu relacionamento com Daniel.

  • Manfred von Richthofen

Manfred Albert Von Richthofen (Erbach, 3 de fevereiro de 1953 - São Paulo, 31 de outubro de 2002) era um engenheiro alemão naturalizado brasileiro, casado com a psiquiatra Marísia Von Richthofen. Através de seu pai, seu ramo teria perdido a maioria de suas posses e influência, principalmente em decorrência da queda do Império Alemão em 1918, e da grande participação da sua nação na Primeira Guerra (1914-1918) e Segunda Guerra Mundial(1939-1945). Manfred não era uma pessoa expansiva, mas tinha muito bom humor, era muito inteligente e prezava pela educação dos filhos.


Ele trabalhava na Dersa desde novembro de 1998 e era diretor de Engenharia da empresa desde junho de 2002. Como funcionário dessa empresa, participou do projeto de construção do Rodoanel Mario Covas de São Paulo, via expressa que contorna a cidade, ligando várias rodovias. Manfred recebia na estatal R$11 mil mensais, mas tinha posses por causa da sua família. Marísia, que mantinha um consultório psiquiátrico, ganhava em torno de R$20 mil em consultas. A fortuna de Manfred era avaliada em cerca de R$11 milhões em valores atualizados.

  • Marísia von Richthofen

Marísia Von Richthofen (nascida Marísia Silva Abdalla) nasceu e viveu durante catorze anos de sua vida em José Bonifácio, cidade a 40 quilômetros de São José do Rio Preto. O avô de Marísia, Miguel Abdalla, mudou-se de Sorocaba para José Bonifácio em 1920 e foi um dos pioneiros no comércio local. Com Miguel Abdalla, mudaram-se para Bonifácio seus filhos, entre eles Salim Abdalla, que se casou na cidade com Lourdes Abdalla e teve dois filhos - Miguel Neto e Marísia. A psiquiatra estudou na cidade até 1966 e se mudou para São Paulo com seus avós. A notícia deixou seus parentes de Sorocaba e José Bonifácio chocados. Filha de descendentes de portugueses e libaneses, formou-se na USP com seu irmão. Era considerada a mais extrovertida e popular da família Richthofen.

  • Suzane von Richthofen

Suzane Louise Von Richthofen (São Paulo, 3 de novembro de 1983) nasceu numa família rica da cidade de São Paulo, filha do engenheiro Manfred Albert von Richthofen e da psiquiatra Marísia von Richthofen e irmã de Andreas Albert von Richthofen. Seu pai, nascido em Erbach, emigrou para o Brasil após uma proposta de trabalho recebida devido a sua formação como engenheiro. Até a ocorrência do delito que culminou com sua prisão, Suzane morava com seus pais em Brooklin Velho

  • Andreas Von Richthofen

Andreas Albert Von Richthofen (São Paulo, 26 de abril de 1987) era um garoto caseiro considerado tímido, e com poucos amigos. Passava a maior parte do tempo trancado no quarto vendo televisão ou no computador, era educado com os empregados da mansão e esperava a chegada de seu pai todos os dias, quando comentava sobre seu dia. Quando a família ia para o sítio que possuía em São Roque, Andreas e Manfred faziam objetos de marcenaria e cuidavam das plantas do jardim. O garoto estudava dois idiomas e era faixa marrom de karatê. Andreas tinha temperamento reservado, como o de seu pai. Recebia cerca de R$2 mil mensais de mesada dos pais e, ao contrário de Suzane, guardava a maior parte do dinheiro.

Suzane e Andreas eram muito próximos um do outro. De acordo com os relatos, os dois sempre foram unidos, cúmplices e confidentes. "Um sempre protegeu o outro", afirmou uma amiga de infância de Suzane. "Nunca vi os dois brigarem. Eles conversavam muito e se davam bem", disse a ex-funcionária Silândia. O garoto também gostava de brincar no quintal de casa com uma espingarda de chumbinho e de cuidar de um porquinho-da-índia. Andreas estudou com a irmã no Colégio Humboldt até o fim de 2001, quando passou a estudar no Colégio Vértice por decisão de seus pais, já que Suzane não havia sido aprovada em um vestibular da USP. Na época, o Colégio Vértice era número um em aprovações no vestibular da USP.

Em 2004, foi aprovado nas cinco principais universidades do estado. Em 2005, quando Suzane foi solta, procurou o promotor Tardelli "temendo sua morte" após ver Suzane rondando a casa em que ele vivia com o tio e a avó materna. Andreas soube que ela havia visitado a casa quando a avó, Lourdes, estava sozinha e inclusive registrou fotos com a avó. Andreas e seu tio Miguel não perdoaram Suzane e não aceitaram acolhê-la na época de sua liberdade. A avó materna, Lourdes, perdoou a neta, mas declarou que "não podia aceitar uma atitude dessas e não queria dividir o mesmo teto com ela". Andreas nunca falou sobre o crime para a imprensa e não visita Suzane desde a véspera de natal de 2002. Durante o período em liberdade, Suzane declarou que ligava para o irmão uma vez por semana, mas ele não a atendia. E quando o fazia, a conversa acabava em discussão.

Andreas cursou Farmácia e Bioquímica na Universidade de São Paulo entre 2005 e 2009. Ingressou no doutorado em Química Orgânica em 2010 na mesma universidade, e recebeu bolsa de estudos do CNPq. Viveu na Vila Congonhas com o tio Miguel e a avó materna Lourdes Magnani Silva Abdalla (falecida em 2006) de novembro de 2002 a meados de setembro de 2011, quando foi noticiado que havia mudado-se para Zurique, Suíça.


A FAMÍLIA CRAVINHOS

Os Cravinhos eram considerados a "família do barulho" pela vizinhança, pois consertavam carros e motos e testavam aeromodelos na vila. Casados há 42 anos e há 30 vivendo na mesma vila, Nadja e Astrogildo têm mais um filho, Marco, que é casado e ajudava financeiramente os pais. Cristian, o do meio, era apontado como o problemático. Discutia com os moradores e passava o dia mexendo em motos. Ele adorava esportes radicais: pulou de paraquedas e fazia motocross. Daniel, o caçula, era simpático e educado. Desde os 13 anos, dedicava-se ao aeromodelismo. Foi campeão paulista, brasileiro, pan-americano, sul-americano e o quinto melhor do mundo em aeromodelismo em 1998 em um campeonato disputado em Kiev, Ucrânia. Colegas do aeródromo dizem que era muito habilidoso para construir e pintar os aparelhos. E era de fazer aviões que ele vivia, ganhando cerca de R$1,4 mil por unidade. Chegou a cursar seis meses de Direito na Universidade Paulista (UNIP), mas largou o curso porque não gostou dele. Na década de 1970, o pai, Astrogildo, foi condenado por falsidade ideológica por usar uma carteira falsa da Ordem dos Advogados do Brasil. Mais tarde ele cursou Direito, mas nunca advogou. Aposentou-se como escrivão de cartório. Os vizinhos nunca ouviram brigas e discussões na casa dos Cravinhos.


COMO SUZANE E DANIEL SE CONHECERAM? DE ONDE VEIO O PLANEJAMENTO DO CRIME?


Na tarde de um domingo de agosto de 1999, Manfred, Marísia, Suzane e Andreas foram dar um passeio no Parque Ibirapuera. Conheceram Daniel, competidor de aeromodelismo. Andreas interessou-se pela prática recreativa e pediu aos pais para fazer o curso. Daniel começou a dar aulas de aeromodelismo para Andreas. Em pouco tempo, os dois ficaram muito próximos. Daniel levava o menino para andar de bicicleta e para disputar corridas de autorama. Segundo conhecidos, Andreas ainda teria ajudado a irmã a se aproximar do rapaz. "Suzane achou Daniel bonitinho e mandou um bilhete por Andreas", disse uma amiga de infância de Suzane em depoimento. Manfred e Marísia não se importaram quando Suzane começou a ter um relacionamento mais íntimo com Daniel, acreditando que isso seria passageiro.

Os relatos afirmam que Andreas ouvia os segredos da irmã e participava da vida dela com o namorado. Segundo esses relatos, Andreas costumava praticar algumas delinquências na companhia do casal. Escondido no porta-malas do carro - disse Andreas a interlocutores -, ele teria ido conhecer um motel com a irmã e o cunhado, onde fumaram maconha. Foi por meio do casal que Andreas experimentou maconha, pela primeira vez, no Paque Villa-Lobos. Daniel, segundo o que Andreas afirmou a policiais que investigavam o caso, era como um "irmão mais velho". "Cristian também era um amigo querido", disse ele nos depoimentos.

Com o tempo, o relacionamento tornou-se mais sério e Manfred e Marísia ficaram preocupados. Para sobreviver, Daniel fazia de um a dois aviões por mês e os vendia por cerca de R$1.400. Também fazia manutenção e vendia peças para aficionados. Suzane pedia dinheiro além da mesada ao pai para emprestar ao namorado e dava-lhe muitas roupas e presentes. Seu irmão, Cristian, chegou a ser internado por dependência de cocaína e vivia às voltas com dívidas com traficantes. Também chegou a prestar serviços como informante da polícia. O casal Richthofen achava que Daniel não fazia bem à sua filha.

Amigos de Suzane e Daniel contam que os dois mudaram depois que o relacionamento adolescente se tornou mais sério. Suzane perdeu aos 16 anos a virgindade com Daniel e na mesma época passaram a fumar maconha quase todos os dias, tendo experimentado também ectasy. A última viagem que Suzane fez sem o namorado foi para a casa de praia de uma das melhores amigas, em Porto Seguro, no réveillon de 2000. Depois disso, era difícil encontrá-la sem Daniel. Companheiros de aeromodelismo dizem que Daniel também mudou. ''Às vezes ele abria mão dos treinos para ir buscá-la'', diz o estudante de Direito e aeromodelista Ênio Tosta. Em seu quarto, na casa dos pais, Daniel colocou dois painéis com dezenas de fotos dele e de Suzane. Uma caricatura do casal também dividia espaço com o aeromodelo que ele utilizava em competições. Sobre a cama, havia um travesseiro estampado com uma foto de Suzane ao lado de seus bichinhos de pelúcia. Desde o início do namoro o casal aproveitava as tardes para ir ao motel Disco Verde de táxi. Mas no fim de 2001, os pais começaram a tentar convencer Suzane para que desse um fim ao namoro, pois descobriram o envolvimento de Daniel com drogas e a filha "desmotivada" para o estudo. Suzane começou a passar as noites com Daniel às escondidas, dizendo aos pais que ia ficar na casa de amigas estudando. 'Ela nos avisava e a gente encobria a mentira', lembra uma das amigas. Em uma noite de abril de 2002, a estratégia deu errado. Marísia telefonou à melhor amiga de Suzane e descobriu que a filha não havia ido dormir lá. Exigiu explicações na manhã seguinte quando a garota voltou para casa, e Suzane contou que havia passado a noite em um motel. Marísia e Manfred resolveram daí proibir definitivamente o namoro.

No dia das mães de 2002, os von Richthofen iriam almoçar em um restaurante de São Roque. Suzane recusou-se a ir, xingou o pai e apanhou dele pela primeira vez aos 18 anos. Manfred deu um tapa em sua filha, que saiu de casa dizendo que não voltaria. Mas voltou, prometeu aos pais que o relacionamento tinha acabado e tirou a aliança de compromisso do dedo. Porém, o relacionamento continuou às escondidas.

Com a proibição, Suzane, que costumava passar tardes inteiras conversando com a mãe, afastou-se de vez dos pais. Brigava com a família a cada vez que chegava em casa com o namorado. 'Em julho, meus pais foram passar um mês fora. Aquele mês foi como um sonho', disse Suzane. Quando eles chegaram, Suzane sugeriu que lhe comprassem um apartamento ou flat para que ela pudesse morar com Daniel. Manfred recusou, dizendo que a filha deveria se formar, trabalhar e - aí sim - morar com quem quisesse. A negativa incentivou o planejamento do assassinato. No enterro de Manfred e Marísia, a aliança de compromisso já estava de volta ao dedo de Suzane. A paixão resistiu aos primeiros meses de prisão, mas em março de 2004 uma carta de Daniel a Suzane deu o sinal de que o amor não era o mesmo: "Não sei por que você não fala mais com os meus pais e nem comigo, será que não confia mais em mim?".


O DIA DO CRIME

Suzane e os Cravinhos, dias antes do crime, fizeram um teste de barulho causado pelos disparos de uma arma de fogo e com isso descartaram a ideia de utilizar uma. Na tarde de 30 de outubro de 2002, Suzane e Daniel Cravinhos repassaram pela última vez os planos do assassinato dos pais da moça. Conversaram com Cristian, que morava na casa da avó, o qual, ainda relutante, não deu a certeza de que participaria nos eventos que se seguiriam à noite. Daniel pediu que o irmão pensasse a respeito e, se resolvesse ajudá-los, que os esperasse em uma dada rua, próxima a um cyber café aonde levariam Andreas. Naquela noite, o irmão de Suzane, Andreas, na ocasião com quinze anos, foi levado pela garota e pelo namorado dela para um cyber café, ele foi seduzido pela ideia de que no aniversário de namoro da irmã a comemoração do casal seria em um motel e a dele seria na Lan House, e que Suzane iria convencer seus pais a deixar o irmão faltar à escola no dia seguinte.

Cristian já estava no cyber café. Ele chegou ao local às 22h12 e saiu às 22h50, para que Andreas não o visse. Por volta das 23h20, Suzane e Daniel encontraram-se com Cristian perto do local. Os três seguiram para a mansão dos von Richthofen no Volkswagem Gol da estudante. Dias antes da noite do assassinato, Suzane havia meticulosamente desligado o alarme e as câmeras de vigilância da casa, de modo que nenhuma imagem do trio chegando fosse capturada.

Por volta da meia-noite, eles estacionaram o carro na garagem. Segundo a polícia, no carro já estavam as barras de ferro, ocas, que foram utilizadas no assassinato. Os rapazes vestiram blusas e meias-calças para evitar que caíssem pelos pela casa, material que poderia ser usado pela polícia para provar a autoria do crime. Suzane abriu o portão, subiu as escadas e acendeu a luz do corredor, para que os irmãos tivessem visão do quarto do casal. Marísia e Manfred dormiam. A estudante separou sacos de lixo e luvas cirúrgicas, que eram utilizadas pela mãe, psiquiatra.

Os irmãos, armados com barras de ferro, entraram no quarto do casal. Daniel seguia em direção ao engenheiro Manfred, enquanto Cristian ia em direção a Marísia.

Eles foram golpeados na cabeça. Manfred faleceu na hora, Marísia, ao ser atacada, acordou e tentou se defender com as mãos e por isso teve três dedos fraturados. Cristian disse à polícia que bateu em Marísia por cinco vezes e colocou uma toalha em sua boca para que parasse de implorar para que os supostos "assassinos" não atacassem seus filhos, que, para ela, estavam dormindo. Ainda segundo o relato de Cristian, em determinando momento, enquanto agonizava, Marísia passou a emitir um som "parecido com um ronco". Para tentar silenciá-la, Cristian Cravinhos então pegou uma toalha no banheiro do casal e empurrou-a pela garganta da psiquiatra, o que quebrou um dos ossos do pescoço de Marísia. Depois de confirmar que os dois estavam mortos, Daniel colocou uma arma pertencente a Manfred perto de seu braço, ao lado da cama, e cobriu o rosto dele com uma toalha. O corpo de Marísia foi envolvido em um saco plástico de lixo, que havia sido deixado por Suzane na escada para que os irmãos depositassem as barras de ferro e suas roupas manchadas com o sangue dos pais.

"Chegamos em casa, eu entrei e fui até o quarto dos meus pais. Eles estavam dormindo. Aí, eu desci, acendi a luz e falei que eles podiam ir. Fiquei sentada no sofá, com a mão no ouvido. Eu não queria mais que meus pais morressem. Mas aí eu percebi que não tinha mais o que fazer, que já era muito tarde", confessou Suzane no depoimento após ser detida.

Não há certeza sobre a posição de Suzane na casa enquanto o crime ocorria e se, depois, ela viu os corpos dos pais. De acordo com a reconstituição do crime, ela ficou no térreo, onde aproveitou para roubar o dinheiro em espécie que havia na casa, guardado dentro de uma pasta de couro com código. Suzane abriu a maleta, pois sabia o segredo, mas Daniel depois cortou a pasta com uma faca para forjar o roubo de 8.000 reais, 6.000 euros e 5.000 dólares. Eles ainda abriram um cofre do casal, onde estavam joias e um revólver, localizado no quarto. Os acusados espalharam as joias pelo chão e deixaram o revólver, intacto, ao lado do corpo do engenheiro. Os bastões ensanguentados foram lavados na piscina e tudo que foi usado no crime foi colocado dentro de sacos de lixo, tendo os três inclusive trocado de roupa.

O dinheiro roubado e algumas joias ficaram com Cristian, como pagamento por sua participação. Após o crime, ele foi deixado perto do apartamento onde morava com a avó, e o casal passou à terceira parte do plano: forjar o álibi. Suzane e Daniel foram para o motel Colonial na avenida Ricardo Jafet, na região do Ipiranga, zona sul. Ficaram na suíte presidencial, pela qual pagaram cerca de 300 reais, pediram uma Coca-Cola e um lanche de presunto. Daniel curiosamente pediu uma nota fiscal, a primeira expedida pelo motel. O casal ficou no local da 1h36 às 2h56, segundo a polícia.

Ao deixar o motel, a dupla passou no cyber café para pegar Andreas. Eles foram até a casa do namorado da estudante e disseram ao adolescente que ele poderia andar em uma mobilete de Daniel. Pouco depois, conforme o plano original, começou a segunda etapa da simulação. Por volta das 4h, Suzane e Andreas retornaram para casa. Eles chegaram à mansão, onde Suzane disse ter "estranhado" o fato de as portas estarem abertas. Andreas entrou na biblioteca e gritou para os pais, enquanto Suzane, orando, correu para o cozinha e pegou uma faca e a entregou ao irmão, ordenando-lhe que esperasse do lado de fora da mansão. A estudante ligou para o namorado e depois, junto de Andreas, deu vários telefonemas para dentro da casa, esperando que seus pais atendessem.

Às 4h09, Daniel contactou a polícia. Disse que estava em frente à casa da namorada, que suspeitava de um assalto no lugar e pediu a presença de uma viatura.

Alexandre Paulino Boto foi o primeiro policial ao chegar ao local. Em seu depoimento durante o julgamento do trio, classificou o assassinato como um “crime de amadores”. “O crime era um procedimento de amadores. Largaram as joias, celulares, deixaram uma arma no quarto do casal. Se alguém quer roubar, furtar, não deixaria isso no local”, afirmou o policial, em 2006. “Um ladrão não deixaria a arma no chão." Boto disse ter estranhado o comportamento de Suzane, que lhe perguntou quais seriam os procedimentos que a polícia iria seguir. “Eu estranhei a pergunta e a atitude impassível diante da morte dos pais”, afirmou. Em seguida, ela perguntou como estavam os pais. “Quando eu disse que estavam bem, ela ficou espantada. ‘Como?’, perguntou.” O policial também estranhou as perguntas de Daniel, que chegou ao local pouco depois. "Você sabe se levaram alguma coisa de dentro da casa? Parece que a família guardava todo o dinheiro em uma caixinha." Em seguida, Daniel falou os valores exatos das quantias guardadas.

Enquanto um policial permaneceu com Suzane e Andreas do lado de fora da mansão, Boto e outro policial entraram na residência, com cuidado, pois ainda havia a possibilidade de se encontrar um suposto ladrão. No andar de baixo, a biblioteca estava totalmente revirada, a sala e a cozinha estavam em ordem. Uma escada levava ao andar superior. Os PMs subiram e verificaram o que parecia ser um quarto feminino, com o closet revirado e bichos de pelúcia jogados ao chão. O quarto seguinte era tipicamente masculino, com um aeromodelo pendurado no teto, tudo organizado; 3 travesseiros cobertos por um lençol. O próximo quarto era de casal, um homem estava morto na cama próximo a uma arma; a hipótese de suicídio foi logo descartada, quando Boto encontrou um corpo feminino debaixo dos lençóis.

Temendo a reação dos jovens, os policiais acionaram uma viatura de resgate. Nessa altura da noite, por volta das 4h30, a família de Daniel já estava no local, abraçada com Suzane e Andreas. Boto pediu que Daniel contasse aos filhos do casal que seus pais haviam sido assassinados. Daniel abraçou os dois, abaixaram a cabeça, cochicharam. Andreas se afastou do grupo, aparentemente em estado de choque. Suzane se aproximou de Boto e perguntou “O que eu faço agora?”.

Por volta das 5h, já era possível ouvir o som de sirenes se aproximando. O pai de Daniel, Astrogildo Cravinhos, se encarregou de falar com os repórteres de várias redes de televisão, enquanto Suzane e Andreas eram encaminhados à delegacia. O relógio marcava 6h e o comportamento do casal logo chamou a atenção de todos na delegacia. Durante a espera para serem atendidos, Suzane tirava um cochilo encostada nos ombros de Daniel. Andreas ficou ali sentado, encolhido e visivelmente abalado, enquanto a irmã trocava carícias com o namorado. Entre as frases enquanto faziam o boletim de ocorrência, eram trocados beijos e carícias entre o casal. Suzane disse ao delegado titular Dr. Enjolras Rello de Araújo, “Eu gostaria que vocês matassem e torturassem esses caras que mataram meus pais” e sorriu para Daniel.


AS INVESTIGAÇÕES

Para todos os envolvidos na investigação do assassinato do casal Von Richthofen, desde o início aquele "latrocínio" parecia uma encenação e os trabalhos se concentraram nas pessoas mais próximas da casa: filhos, empregada, colegas de emprego de Manfred na Dersa e pacientes de Marísia. A polícia investigou o relacionamento de Suzane com Daniel Cravinhos. Segundo amigos da família, Manfred e Marísia não aprovavam o relacionamento que, por pressão maior da mãe, chegou a ser rompido uma vez. No dia 4 de novembro de 2002, Suzane prestou o segundo depoimento aos policiais do Departamento de Homicídios e de Proteção á Pessoas (DHPP). O interrogatório, para tirar dúvidas sobre eventuais contradições, durou cerca de duas horas.

Após suspeitar da compra de uma moto nova por Cristian Cravinhos poucos dias após os assassinatos, a polícia o prendeu preventivamente, enquanto interrogava Daniel. No dia 8 de novembro de 2002, Cristian, Daniel e Suzane confessaram o assassinato do casal.


SENTENÇA

O Tribunal do Júri condenou Suzane Richthofen e Daniel Cravinhos a 39 anos de reclusão, mais seis meses de detenção, pelo assassinato do engenheiro Manfred e da psiquiatra Marísia von Richthofen, mortos a pauladas no dia 31 de outubro de 2002, na residência deles, no bairro nobre do Brooklin, em São Paulo. A pena-base foi de 16 anos, mais 4 pelos agravantes, para cada uma das mortes. Ambos tiveram sua pena reduzida em um ano; Suzane por ser à época menor de 21 anos, e Daniel, graças à confissão. Já Cristian Cravinhos foi condenado a 38 anos de reclusão, mais seis meses de detenção. Sua pena-base foi de 15 anos, mais 4 pelos agravantes, também para cada uma das mortes. Ele também teve sua pena reduzida em um ano por ter confessado o crime. Mesmo condenados a quase 40 anos, a lei brasileira só permite que um condenado fique preso por no máximo 30 anos.

A sentença só foi anunciada às 3h da madrugada do dia 22 de julho de 2006, pelo juiz Alberto Anderson Filho, que presidiu o julgamento iniciado no começo da semana, no dia 17, no Fórum Criminal da Barra Funda, na capital paulista. Os condenados ainda podiam recorrer, mas não puderam aguardar em liberdade. Também não podiam ser submetidos a novo júri, pois as penas foram inferiores a 20 anos por homicídio praticado. O advogado de defesa de Suzane Richthofen, Mauro Otávio Nacif, disse que saía "muito triste" do Tribunal e que não iria recorrer do resultado, mas que tentaria reduzir a pena da cliente.

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